quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As oportunidades da Copa

Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, é uma das seis sedes da Copa das Confederações de 2013, evento preparatório para a Copa do Mundo da Fifa no ano seguinte. Esse privilégio faz com que os efeitos da Copa sobre a economia local comecem bem antes. Da última vez que estive na cidade, em agosto, no entanto, ouvi um depoimento revelador do motorista que me levava do aeroporto para o centro, um microempresário dono de frota de carros de passeio. Naquela semana, ele recusara um pedido de reserva para atender uma delegação de dirigentes japoneses que estarão na cidade durante a Copa das Confederações. Motivo: tomado de surpresa pelo pedido (de um evento marcado há cinco anos!), ficou inseguro se teria condições de atender súbito aumento de demanda.

Histórias como esta não são incomuns. Tenho participado de uma série de seminários em cada uma das 12 sedes da Copa, nos quais discuto os impactos macroeconômicos do evento. Nesses encontros debatemos com pequenos e médios empresários sobre as oportunidades que o evento traz para seus negócios. Ouvimos histórias de quem já está se preparando - e lucrando - com a proximidade do evento. No entanto, aparecem também dúvidas e preocupações, principalmente acerca da capacidade das economias locais conseguirem atender as demandas geradas pela Copa.

Fica claro que, apesar das muitas informações divulgadas pela mídia e pelo farto material disponível na internet (inclusive em sites do governo), ainda há muito pouco conhecimento sobre as oportunidades que a Copa pode trazer, e como aproveitá-las.

Será preciso aproveitar as chances para ganhar mercados e abrir canais de negócios que durem muito tempo

Muito já se discutiu sobre os benefícios macroeconômicos da Copa, na esteira dos grandes investimentos em obras de infraestrutura, rede hoteleira, estádios, etc. E do efeito sobre a "marca" Brasil, que rende aumento do fluxo de turismo e comércio internacionais. Mas pouco se fala nos efeitos microeconômicos, ou seja, na vida das empresas.

A realização da Copa gera demanda por diversos setores da economia, expõe os produtores brasileiros ao mercado mundial, abre as portas para intensificar e ampliar as relações com clientes e fornecedores de diferentes partes do mundo. Um minucioso estudo do Sebrae, disponível no Portal da Copa (site mantido pelo Ministério do Esporte na internet) descreve oportunidades de negócios em nove setores - de agronegócio à tecnologia da informação - nas 12 cidades-sedes de 2014.

Como a Copa mobiliza os diversos setores da economia? No pré-evento, são realizados os investimentos para estruturação e adequação do país a fim de receber o megaevento, aquecendo as atividades ligadas à infraestrutura, mobilidade, serviços e turismo. Durante o evento, com o fluxo de visitantes, serão beneficiadas atividades como mobilidade, alimentos e bebidas e serviços. Finalmente no pós-evento, aparecem oportunidades decorrentes do legado deixado pela Copa do Mundo de 2014. Representa uma chance de desenvolvimento empresarial para as pequenas e médias empresas. Elas terão acumulado relacionamentos de mercado, experiência, novos recursos, capacidades de atendimento e qualidade para prestação de serviços.

No entanto, para que as oportunidades sejam de fato aproveitadas, as empresas precisam estar preparadas. Caso contrário, observarão um aumento de movimento durante a realização do evento que desaparecerá ao longo do tempo.

A falta de infraestrutura e mão de obra treinada tem se revelado uma das principais fontes de apreensão de pequenos e médios empresários. Particularmente aqueles ligados ao setor de serviços. "Se hoje já está difícil atender toda a demanda, como projetar grandes avanços com a Copa?". Nesse cenário, algumas oportunidades são perdidas, como a do frotista descrito no início do artigo.

O investidor privado terá que fazer seus próprios investimentos em treinamento e criar condições para que sua empresa não esbarre nos gargalos de infraestrutura. Os esforços governamentais para a Copa serão importantes, mas provavelmente não conseguirão atender às necessidades de todos.

As empresas têm que estar prontas para atuar no mercado. Além de capacidade técnica, atendimento diferenciado aos clientes, bons produtos e serviços, as empresas precisam ter toda a documentação em ordem, para poderem vender seus produtos e serviços para o Governo, empresas particulares e consumidores finais. É comum empresas particulares solicitarem certidões negativas de outras empresas na hora de fechar negócios ou iniciar uma parceria. Alguns setores exigem documentação exclusiva, considerada, muitas vezes, obrigatória, tais como registros em órgão de classe ou reguladores, licenças ambientais, entre outros.

É preciso, por fim, um esforço extra de busca de informações. A Copa é um evento com muitas particularidades - inclusive contratuais - que impulsionam alguns segmentos (exigência de renovação de frotas de veículos, hotéis, etc...) e limitam outros (especialmente o comércio de ambulantes próximo aos locais dos jogos).

Toda esta preparação é importante. Como a Copa tem dia e hora para começar, se uma empresa não estiver preparada para atender rapidamente uma demanda, pode perder uma grande chance de fechar um bom negócio. E, mais grave, pode perder a chance de abrir um relacionamento duradouro com novos parceiros comerciais.

A Copa será um evento importante para o Brasil e para suas empresas. No entanto, a simples realização da Copa não irá transformar a economia do país. Isso acontece apenas se os brasileiros aproveitarem as oportunidades que ela traz para ganhar mercados e abrir canais de negócios que durem por muito tempo.


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